sexta-feira, fevereiro 22, 2008

A consonância dos males na política Goitacá

Bruno Lindolfo
Universitário de Direito da Ucam Campos

Tirei meu titulo de eleitor aos 15 anos. Como bom brasileiro que sou, deixei para o último dia. Fiquei seis horas na fila. Não reclamei: votar, para mim, era mais importante. Ainda hoje, e, quiçá, para sempre, estar frente à urna traz o mesmo êxtase da primeira vez - méritos do meu pai, que, desde muito cedo, incentivou o diálogo político e sempre me levou nas votações. Não compreendo por que esse dia é tratado com uma aura de eterna manha sacal de domingo; normalmente, nesse dia toda gente reclama que poderia estar na praia, até mesmo aqueles que vão apenas durante o verão, e nem molham os pés!

Minha estréia como eleitor foi repetida quatro vezes, em um espetáculo deprimente de como a politicagem pode degenerar um dos ofícios mais nobres que existe, o oficio do político.

Aliás, política em Campos, notadamente na disputa executiva, parece sofrer uma sina eterna: um fado de pilha alcalina, que é viver de pólo a pólo, negativos, por sinal - talvez por isso a repulsa mútua -, o que acaba legando ao eleitor possibilidades ínfimas.

Em uma fase, digamos, mais rock’n roll, imaginava equacionar esse problema anulando meu voto. Reflexões depois, percebi que votar nulo era uma atitude egoísta e inócua, por trazer uma falsa sensação de escusa do processo perverso que por vezes pode descortinar ante nossos olhos.

O meio encontrado para solucionar o problema foi a teoria do mal menor, que consiste em ponderar, dentre os males, qual teria efeito menos avassalador, sob todos os aspectos, dentro da cidade ou adjacências.

Com efeito, a teoria do mal menor funcionou durante algum tempo, mas, infelizmente, o mal menor preferiu galgar o mesmo caminho de seu criador: repetindo erros, inovando outros e até exportando males. Demovendo, assim, uma oportunidade de ouro: de trabalho sério, coeso, inovador e honesto. Seria um marco para a cidade, para a sociedade e um marco político pessoal, enterrando de vez o outro mal.

O mal menor tripudiou de todos - e de si mesmo -, granjeou um novo status: é hoje tão nefasto quanto o outro.

A síntese do mal menor caducou, não faz mais sentido quando se tem uma tese e antítese que representam absolutamente a mesma política mofada e clientelista que marcou nossa história como país, e por aqui fez morada. Campos dos Goytacazes, minha aldeia, realmente virou uma trincheira, um foco de ranço que resiste em ruir, mesmo diante dos ventos mais fortes da modernidade e do vendaval da bonança capital que chega de nossos mares, e que insiste em nos assolar, num contraditório sem precedentes.

Diante de males iguais, atentemos, então, para o mal maior, que decorre da formação gradual, paulatina, ou não, de uma oligarquia que se estabelece pela continuidade no poder, engranzando para si todas as oportunidades de negócios na cidade, limitando concorrência, cerceando novos empreendimentos, que não terão vigor financeiro para concorrer com uma máquina alimentada por recursos infindáveis, nossos recursos. Digo isso pois é visível o crescimento de grandes negócios na cidade, notadamente na área imobiliária, e, se procurarmos saber quem são os capitães de tais empreendimentos, veremos que há uma intimidade fortíssima entre público e privado.

Um exemplo: se a coisa continuar nesse pé, daqui uns anos, um cidadão comum, honesto, cumpridor de todos os seus deveres e obrigações, que queira iniciar um negócio na cidade: inovar, gerar empregos, sob uma perspectiva nova, um diferencial, não conseguirá. Terá de se sujeitar ou a mudar de ramo ou ser empregado, e não empregador. E essa mudança é irreversível.

O ano eleitoral se inicia, à cidade, desejo sorte; aos eleitores, sobriedade e reflexão para melhor decidir.