quinta-feira, abril 30, 2009

Pandemia da ignorância

Luiz Felipe Muniz de Souza
Advogado e ecologista
lfmunizz@gmail.com ; http://luizfelipemunizdesouza.zip.net/
28/Abril/2009

Muitas pessoas se perguntam hoje: o que há com o tempo? Por que será que o dia nos foge como água entre os dedos e não conseguimos realizar boa parte de nossos planos? Estamos com isso permitindo o avanço gradual e sistemático da ansiedade, do estresse e da incompreensão?

Existem teses mirabolantes tentando tratar do tema, algumas até se reportam a um fenômeno denominado “Ressonância Schumann”, que teria como eixos centrais: a Ionosfera, a superfície da Terra, a Biosfera, a degradação ambiental e o movimento de rotação do planeta. Entretanto, tal assunto eu não irei abordar aqui. Se você ficar curioso, tente uma breve pesquisa no “google”, você irá gostar, acredite!

O que me chama mais atenção hoje, na verdade, é o avanço desmedido da ignorância associada à velocidade da informação! Não aquela do ignorante porque é abrutalhado, traçado para lutas medievais – esta também avança –. Mas aquela que vem se ampliando e transformando, velozmente, as nossas crianças e jovens, em seres alienados e que ignoram absolutamente a realidade terrena da humanidade e a dimensão espaço / tempo da Terra.

No âmago da velocidade das informações, e dos fatos pós-modernos, há uma inegável pandemia da ignorância invadindo e solapando a sociedade humana, como uma febre. Por mais que a Internet facilite os acessos, as redes neurais – em nosso cérebro – formatadas por nossas famílias e nossas escolas, não assimilam a informação como mais um componente para o conhecimento. Pelo contrário, as informações são mais importantes. Elas são postas em série, como tábuas rasas flutuantes, desconectadas entre si na imensa superfície de um mar desconhecido, de competições pessoais e de possibilidades virtuais intangíveis, rumo a um futuro, sempre maior e glorioso – ad infinitum –!(?) Do conhecimento de fato, pouco sobrevive!

Enquanto as autoridades elaboram estratégias de ações na árdua tarefa de combate à fenomenal crise sistêmica atual: a financeira, a política e a ecológica, por meio de modelos ultrapassados e insustentáveis – porque privilegiam o poder, o mercado e o lucro em detrimento dos valores humanos e ambientais mais prementes –; os demais bilhões de humanos, particularmente os jovens, assistem atônitos, apáticos e impotentes aos reveses radicais do avanço da incompreensão entre os humanos, do desemprego, das gripes dos “porcos”, das tormentas climáticas, dos suicídios absurdos entre jovens índios brasileiros, da pobreza infernal em escala global, do avanço feroz da insegurança pública, etc.

Seria belo, se não fosse trágico, assistir os nossos jovens, meninos e meninas adormecidos pelos sonhos virtuais desconexos, seja em baladas ou em buscas pela arte mais radical, ou pela música perfeita ou ainda por experiências sexuais mais transcendentes, etc. Mas o que se passa agora é irremediável! A humanidade em risco iminente, diante das mudanças ambientais e sociais inevitáveis, requer a urgência de mentes complexas, sábias, tolerantes e capazes de se articular, para tentar dar conta dos mínimos na ousadia do caos...Entretanto, perdemos os rumos e tudo indica o final de um tempo!

Os nossos jovens abandonaram “o front” dos movimentos naturais de renovação e aperfeiçoamento sociais – vitais para o prosseguimento de nossa espécie –. A visão crítica natural e os ideais inovadores lhes foram tomados pela torpeza das gerações anteriores, e como órfãos abandonados na ignorância dos tempos, optaram pelos prazeres mais fáceis da droga entorpecente, do consumo excessivo e do sexo precoce desmedido. Ao mesmo tempo, os velhos pensadores e ativistas de outrora não mais seduzem e nem mais esboçam sentidos coletivos de mobilização. Eles também envelheceram e perderam os rumos em egos demasiados ou em instâncias do Estado decadente. As Famílias? Nem pensar, elas foram decapitadas! Por outro lado, a Imprensa mantém-se fiel aos donos do capital, enquanto as Igrejas, retardam o motim social dos que estão às margens do mercado!

Daí o abissal distanciamento do agora, do sentido de tudo – em nossas vidas pessoais e coletivas –, do o quê fazer diante de tanto o quê fazer, num contexto humano e num tempo planetário, incertos e incapazes de se afinar!?

É provável que os jovens, por intuição, estejam de fato respondendo à altura da aspereza da magnífica tarefa a ser cumprida por todos e por cada um, quem sabe?! Talvez! Afinal, diante das hordas corruptas e gananciosas, liderando profundamente nas entranhas da sociedade pós-moderna em ruínas, somente aguardando o fim da “festa”, para, entre possíveis sobreviventes bêbados e maltrapilhos, tentar um reencontro com Gaia! Alguns afirmam: “Será por demais tardio!”.