Luiz Felipe Muniz de Souza
Advogado, ecologista, terapeuta, psicopedagogo
lfmunizz@gmail.com
24/02/2006
Gostaria de falar sobre redes, não das redes de nossas varandas que nos convidam ao ócio e aos prazeres do sono após o almoço de verão. As redes que me refiro são aquelas das conexões possíveis, das comunicações inadiáveis e das estruturações virtuais e porque não dizer redes neurais de nosso tempo.
O problema é que em época de carnaval falar de redes parece fantasia e a fantasia nos remete aos sonhos infantis. Para o momento não caberá nem o discurso nem as idéias mirabolantes. Mas, veja bem, todos podemos fazer o mesmo discurso, muitos podem fazer o mesmo discurso, cada um de nós deve fazer o mesmo discurso, porém confesso, caros e caras, tem sido cada vez mais difícil para mim! Não consigo mais acolher com tranqüilidade os inumeráveis "belos" discursos que, de certa forma não se apropriam das mazelas históricas de nossa gente, uma gente sofrida e forjada pela violência vil dos europeus em fanfarra, encantados com o paraíso tropical detonaram os "selvagens", particularmente as selvagens de peles sedosas que tiveram seus úteros invadidos por genética incomum, mas tudo bem...(?)
Em seguida os negros dilacerados de seus lares fartos e arremessados como cães raivosos nas lavouras juvenis, fruto da devastação da exuberante mata de outrora que chamamos hoje de atlântica. Nem mesmo esta chaga de sangue e tortura foi capaz de aniquilar e ocultar o sorriso sempre estampado no rosto de cada brasileiro e brasileira.
Após 500 anos de dominação da direita, ou melhor, da visão burguesa de governo, da forma preconceituosa e hierárquica de exercer o poder na nação e de entender e acolher as diferentes culturas humanas - dividindo-as em classes para repartir desigualmente o pão de cada dia..., assistimos agora mais recentemente a entrada de outros no "palácio", boa parte de nós - os fartos - ficamos perplexos e em crise com as possibilidades de mudanças e desvendamentos, uma loucura que virou ícone nas palavras de Regina Duarte... Esta história ainda não terminou...!
Ah! Como aprecio hoje os muitos ensinamentos do Darci Ribeiro e outros grandes pensadores como Edgar Morin, Claude Lévi-Strauss, Domenico De Masi,... que tiram o Brasil como o celeiro e o útero de uma nova civilização, o elogio eloqüente à nossa tropicalidade, à nossa rica miscigenação, ao nosso desejo profundo por paz e por festas noite e dia, ao nosso enorme potencial acolhedor, ao nosso magnífico "jeitinho brasileiro" e brincalhão de levar as coisas para adiante - sinal maravilhoso de nossa enorme tolerância com o outro...
Infelizmente aquilo que alguns vêem como virtude de um povo, alguns outros importantes senhores e senhoras apenas se apropriam para detonar as nossas frágeis instituições e cutucar a nossa auto-estima nacional. Rebaixar a nossa moral coletiva é uma forma cruel de se fazer vedete e ao mesmo tempo campanha político-partidária contra o governo de ocasião, por isso que dizem que em época de copa do mundo tudo gira favorável ao governante instalado na alvorada ou nos demais castelos. A alegria contagia e desintoxica a alma, feliz é o povo que tem o futebol como cenário de luta por suas diferenças e convicções e um carnaval como o nosso para o deleite profundo da beleza e das paixões pela vida.
Ao mesmo tempo que a minha opinião possa gerar alguma suspeição por operar parte do meu tempo em uma empresa estatal de destaque, sei que talvez as minhas afirmativas facilite a vida afrouxando a alma de muitos que concordam e adotaram o silêncio ou a indiferença como instrumento de sobrevivência e desfaçatez.
O fato que classifico hoje como real e relevante é que o nosso carnaval é a expressão máxima de uma cultura humana multi-inter-transdisciplinar. Nós, povo brasileiro, conseguimos construir numa grande extensão territorial uma maneira única, maravilhosa e alegre de exibir a sagrada existência da vida humana através das festas de rua, dos bailes, dos blocos, das escolas de samba, dos frevos, dos maracatus, dos bois “pintadinhos” e de tantas expressões ainda não catalogadas. Infeliz o governante que cooptar esta magia na intenção descarada de autopromoção eleitoral!
O problema entonado continua por gerações e séculos o mesmo e não nos pertence propriamente, prezados leitores e leitoras, ele é da humanidade e de nosso tempo. Edgar Morin desnuda bem estes lençóis, estas dimensões - a crise humanitária atual - nas suas obras sobre o Método, particularmente no último livro sobre a ética, lá que encontrei algum conforto para as minhas mais abissais angústias. O gênero humano é capaz de discursos incomuns e belíssimos, músicas complexas e poesias transcendentais, tanto quanto o é para práticas levianas, perversas, egocêntricas e paradoxais.
A atenção que se exige hoje passa pelas redes, pela alegria e liberdade de nossos carnavais, mas somente poderá prosseguir dando algum sentido se soubermos canalizar estas energias rumo aos desafios e urgências da sustentabilidade ecológica.
Somente um povo como o nosso será capaz de inaugurar novos paradigmas estruturais e não será com uma visão reduzida de sustentabilidade que chegaremos lá. Os homens e mulheres dos planejamentos públicos de governo fazem uso sistemático deste termo, porém desconhecem os seus significados reais, iludem-nos com projetos ditos sustentáveis, quando na verdade são caóticos e obtusos, a pseudo-sustentabilidade é que rege a marcha desta engrenagem sem lubrificação.
A sustentabilidade desejada é aquela que acolhendo os ciclos naturais estabelece novos níveis de relacionamentos dos humanos com o mundo, com o outro e consigo mesmo. Nas palavras de Fritjof Capra: “Uma vez que a característica notável da biosfera consiste em sua habilidade para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de forma que, suas formas de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não venham a interferir com a habilidade inerente à Natureza ou à sustentação da vida".
Advogado, ecologista, terapeuta, psicopedagogo
lfmunizz@gmail.com
24/02/2006
Gostaria de falar sobre redes, não das redes de nossas varandas que nos convidam ao ócio e aos prazeres do sono após o almoço de verão. As redes que me refiro são aquelas das conexões possíveis, das comunicações inadiáveis e das estruturações virtuais e porque não dizer redes neurais de nosso tempo.
O problema é que em época de carnaval falar de redes parece fantasia e a fantasia nos remete aos sonhos infantis. Para o momento não caberá nem o discurso nem as idéias mirabolantes. Mas, veja bem, todos podemos fazer o mesmo discurso, muitos podem fazer o mesmo discurso, cada um de nós deve fazer o mesmo discurso, porém confesso, caros e caras, tem sido cada vez mais difícil para mim! Não consigo mais acolher com tranqüilidade os inumeráveis "belos" discursos que, de certa forma não se apropriam das mazelas históricas de nossa gente, uma gente sofrida e forjada pela violência vil dos europeus em fanfarra, encantados com o paraíso tropical detonaram os "selvagens", particularmente as selvagens de peles sedosas que tiveram seus úteros invadidos por genética incomum, mas tudo bem...(?)
Em seguida os negros dilacerados de seus lares fartos e arremessados como cães raivosos nas lavouras juvenis, fruto da devastação da exuberante mata de outrora que chamamos hoje de atlântica. Nem mesmo esta chaga de sangue e tortura foi capaz de aniquilar e ocultar o sorriso sempre estampado no rosto de cada brasileiro e brasileira.
Após 500 anos de dominação da direita, ou melhor, da visão burguesa de governo, da forma preconceituosa e hierárquica de exercer o poder na nação e de entender e acolher as diferentes culturas humanas - dividindo-as em classes para repartir desigualmente o pão de cada dia..., assistimos agora mais recentemente a entrada de outros no "palácio", boa parte de nós - os fartos - ficamos perplexos e em crise com as possibilidades de mudanças e desvendamentos, uma loucura que virou ícone nas palavras de Regina Duarte... Esta história ainda não terminou...!
Ah! Como aprecio hoje os muitos ensinamentos do Darci Ribeiro e outros grandes pensadores como Edgar Morin, Claude Lévi-Strauss, Domenico De Masi,... que tiram o Brasil como o celeiro e o útero de uma nova civilização, o elogio eloqüente à nossa tropicalidade, à nossa rica miscigenação, ao nosso desejo profundo por paz e por festas noite e dia, ao nosso enorme potencial acolhedor, ao nosso magnífico "jeitinho brasileiro" e brincalhão de levar as coisas para adiante - sinal maravilhoso de nossa enorme tolerância com o outro...
Infelizmente aquilo que alguns vêem como virtude de um povo, alguns outros importantes senhores e senhoras apenas se apropriam para detonar as nossas frágeis instituições e cutucar a nossa auto-estima nacional. Rebaixar a nossa moral coletiva é uma forma cruel de se fazer vedete e ao mesmo tempo campanha político-partidária contra o governo de ocasião, por isso que dizem que em época de copa do mundo tudo gira favorável ao governante instalado na alvorada ou nos demais castelos. A alegria contagia e desintoxica a alma, feliz é o povo que tem o futebol como cenário de luta por suas diferenças e convicções e um carnaval como o nosso para o deleite profundo da beleza e das paixões pela vida.
Ao mesmo tempo que a minha opinião possa gerar alguma suspeição por operar parte do meu tempo em uma empresa estatal de destaque, sei que talvez as minhas afirmativas facilite a vida afrouxando a alma de muitos que concordam e adotaram o silêncio ou a indiferença como instrumento de sobrevivência e desfaçatez.
O fato que classifico hoje como real e relevante é que o nosso carnaval é a expressão máxima de uma cultura humana multi-inter-transdisciplinar. Nós, povo brasileiro, conseguimos construir numa grande extensão territorial uma maneira única, maravilhosa e alegre de exibir a sagrada existência da vida humana através das festas de rua, dos bailes, dos blocos, das escolas de samba, dos frevos, dos maracatus, dos bois “pintadinhos” e de tantas expressões ainda não catalogadas. Infeliz o governante que cooptar esta magia na intenção descarada de autopromoção eleitoral!
O problema entonado continua por gerações e séculos o mesmo e não nos pertence propriamente, prezados leitores e leitoras, ele é da humanidade e de nosso tempo. Edgar Morin desnuda bem estes lençóis, estas dimensões - a crise humanitária atual - nas suas obras sobre o Método, particularmente no último livro sobre a ética, lá que encontrei algum conforto para as minhas mais abissais angústias. O gênero humano é capaz de discursos incomuns e belíssimos, músicas complexas e poesias transcendentais, tanto quanto o é para práticas levianas, perversas, egocêntricas e paradoxais.
A atenção que se exige hoje passa pelas redes, pela alegria e liberdade de nossos carnavais, mas somente poderá prosseguir dando algum sentido se soubermos canalizar estas energias rumo aos desafios e urgências da sustentabilidade ecológica.
Somente um povo como o nosso será capaz de inaugurar novos paradigmas estruturais e não será com uma visão reduzida de sustentabilidade que chegaremos lá. Os homens e mulheres dos planejamentos públicos de governo fazem uso sistemático deste termo, porém desconhecem os seus significados reais, iludem-nos com projetos ditos sustentáveis, quando na verdade são caóticos e obtusos, a pseudo-sustentabilidade é que rege a marcha desta engrenagem sem lubrificação.
A sustentabilidade desejada é aquela que acolhendo os ciclos naturais estabelece novos níveis de relacionamentos dos humanos com o mundo, com o outro e consigo mesmo. Nas palavras de Fritjof Capra: “Uma vez que a característica notável da biosfera consiste em sua habilidade para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de forma que, suas formas de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não venham a interferir com a habilidade inerente à Natureza ou à sustentação da vida".