terça-feira, dezembro 30, 2008

Crise... Ambiental, financeira ou do capitalismo?!

Luiz Felipe Muniz de Souza
Advogado e Ecologista - lfmunizz@gmail.com http://luizfelipemunizdesouza.zip.net/

Campos, 30/12/2008.

Por anos sem fim o capitalismo domou e reciclou as suas desordens congênitas – como a crise atual – com muita guerra e destruição. Esta sempre foi a forma de re-colocar as coisas no seu eixo original, após um ciclo de muita especulação, mentiras e fraudes contra o Estado e os bens públicos. O domínio de uma minoria sempre foi garantido com armas de foto de alto calibre! O modelo imposto pelo capitalismo de mercado sempre fez valer a lógica de uma minoria podre de rica e uma absoluta maioria de marginais, quase sempre incultos e débeis.

Agora, porém, “a porca torceu o rabo” – como se diz na gíria popular! As máquinas de guerra das grandes nações dominantes, em particular os EUA, sofreram baixas fabulosas e inesperadas nos últimos anos...Acostumados a destruir o território “inimigo” e a reconstruí-lo após um “tratado de paz”, forjado com as lideranças locais derrotadas – criando assim a enorme dívida dos mundos subalternos –, os donos do capital viram suas retaguardas serem invadidas pelas tormentas dos céus... Tornados, furacões, terremotos e maremotos causaram nos últimos anos, bilhões de dólares de prejuízos em importantes centros urbanos, expondo déficits que nem mesmo as fraudes recorrentes e criminosas conseguiram esconder. A imprensa, como sempre, se mantém à margem desta dimensão!
Aos neocapitalistas de hoje impõem-se, desde já, uma questão: como promover e garantir uma guerra de dominação diante do caos climático irreversível, de conseqüências imprevisíveis e que ceifa de forma impecável as estruturas vitais tanto dos ricos quanto dos pobres ao mesmo tempo?

Segundo dados recentes publicados pela BBC, somente em 2008 “mais de 220 mil pessoas morreram em todo o mundo vítimas de desastres naturais” e as “perdas financeiras totalizaram cerca de US$ 200 bilhões (aproximadamente R$ 475 bilhões) em 2008, bem acima dos US$ 82 bilhões (R$ 195 bilhões) registrados em 2007”.

O rombo agora exposto do mercado financeiro global, com a quebradeira de bancos internacionais e grandes corporações empresariais já era administrado por longa data, numa falsa idéia exponencial de crescimento absoluto e lucros faraônicos, bastava, ao final de cada ciclo, reinventar uma nova guerra para soerguer a fajuta e insustentável lógica capitalista de mercado e dominação. Eis que surge a tal das “Mudanças Climáticas” na retaguarda de todos os processos humanos, impondo novíssimos contextos, debilitando lógicas empresariais refinadas, e expondo de vez a nossa enorme fragilidade sócio-cultural-econômica-ambiental, onde agora, o fator ecológico e climático tem peso irredutível; entretanto, nem os políticos, nem os governos e nem os grandes financistas do mercado de capitais, ainda se deram conta da abrangência da crise que já se instalou veloz!

Não é à toa a evidência em que ficarão os Prefeitos daqui a diante. As pessoas vivem em cidades e não em Estados ou em Nações, antes de tudo elas vivem em comunidades e aglomerados humanos mantidos por sistemas municipais de saúde, educação, saneamento, segurança, alimentação, etc, e serão as cidades as maiores vítimas dos processos de mudanças climáticas anunciados.

As(os) Prefeitas(os) que assumirão a partir de 2009 terão pela frente enormes desafios sócio-eco-ambientais! Creio que não mais será possível uma governança baseada em fatores políticos-partidários tão somente, mas... As equipes técnicas de gestão, controle e fiscalização deverão existir de fato e de carreira pública, previamente concebidas para um cumprimento continuado de metas – urbanas e rurais – afinadas com as urgências sócio-ambientais municipais, intermunicipais, estaduais e federais. De tal forma que as(os) Prefeitas(os) e suas equipes liderem, absolutamente, um processo vital de transformação dos aglomerados humanos em simbiose com as mudanças em curso, não será fácil!!

Antes de tudo será preciso entender que cabe ao Poder Executivo Municipal o papel primordial diante das crises intensas, não somente para socorrer os desabrigados ou famintos, mas também para estabelecer e restabelecer planos de ações preditivas e preventivas, bem como, destinar verbas para os seus cumprimentos reais. Os atores do Executivo não poderão mais se dar ao luxo da baixa qualificação política e técnica, devem pautar as suas prioridades de governo em modelos de gestão mais afinados e antenados com as urgências sócio-ambientais sistêmicas, complexas e irreversíveis já em processo em todo o Planeta. Tomara que assim o façam!!

Nenhum comentário: