quarta-feira, janeiro 11, 2006

O bonde da história

"Quando não se sabe o caminho a seguir, qualquer caminho serve"
Ronaldo Araujo*

O Porto de Santos bateu o recorde de exportação e os produtos principais são o etanol (álcool) e açúcar (sacarose). De janeiro a outubro, foram 1.196 bilhões de litros do primeiro e 10,748 milhões de toneladas do segundo, ou seja, o agronegócio teve na indústria sucroalcooleira o título de campeão, desbancando a soja, mesmo tendo a China com um apetite voraz de quem cresce a 10% ao ano.
Nada seria possível se não tivesse como retaguarda um sistema multimodal de logística. Usinas do Oeste paulista (novo eldorado) há mais de 500 Km do Porto de Santos, utilizam o sistema hidroviário (bacia Tietê-Paraná) com transbordo em pontos estratégicos para a malha rodoviária e ferroviária.
O açúcar atingiu os mais altos níveis, seja o demerara (Bolsa de nova York) seja o branco (Bolsa de Londres). O açúcar branco será o novo filão e ainda não atingiu os níveis que podem atingir e várias usinas paulistas já estão se preparando para este novo filão, que envolverá programas rígidos de gerenciamento e qualidade, onde vigoram normas de GMP (good maufacturing practices) HACCP (harzadous analisys and critical control points), além de programas ambientais e de segurança.
Empresas na Europa e nos EUA compravam o açúcar demerara e o processavam com os padrões acima para os mercado, ou seja, agregavam valor. Agora eles estão à procura de usinas para comprar no país, pois, com a queda de subsídios houve um rebuliço geral.
O Norte Fluminense, que já capitaneou o mercado de açúcar (e álcool) no Estado do Rio de Janeiro, não aproveita este momento de crescimento no mercado nacional e mundial e nem sequer, se dá conta de sua posição geográfica privilegiada (entre os portos de Tubarão e Rio de Janeiro). Há demanda crescente, pois entrarão em operação no Brasil 51 usinas e com o crescente mercado em expansão de etanol, há estudos que indicam a necessidade de mais 80 usinas (além das 51 em construção) com moagem de 2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar cada, para atender o mercado mundial.
É bom lembrar que alguns estados dos EUA, já adicionam etanol à gasolina para fins de redução da emissão de gases na atmosfera e olha que o governo do Bush ainda não assinou o tratado de Kyoto. O Texas, estado do petróleo (Oil State, como mostra nas placas dos carros) já instalou sua primeira bomba de etanol. O Japão torce para que tenhamos um modelo de suprimentos eficiente.
O biodiesel, que se atrela à indústria sucroalcooleira, pois se trata de um produto da reação de um ácido graxo (presente em diversas oleaginoas e sebo bovino) com o etanol (ou metanol) seria um produto de sinergia entre vários campos: agricultura, educação, economia e transportes, com a fixação da família no campo, ao invés de seu deslocamento e aumento da favelização das cidades.
Nenhum êxito será obtido se houver divórcio entre o meio acadêmico e o empresarial. Este precisa também estar atento às novas idéias e tecnologias e apoiar o acadêmico. Os exemplos da Esalq, IAC, Unesp, USP e Embrapa que em diversos setores alavancaram um sem número de programas que redundaram em produtividade, qualidade, menores custos, novas técnicas de gerenciamento e controle na indústria paulista, estão sendo copiados por outros estados como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O momento agora caberia uma convocação do meio acadêmico para um "Task Force" (força tarefa) para sugestão de modelos na área econômica, agricultura, tributária, química, alimentícia, saúde, saneamento básico, educação, meio ambiente o enfim tudo que redunde em sair da mesmice e aproveitar o momento de crescimento mundial.
Outros dois potenciais pouco explorados na região: a mandioca que utiliza os mesmos métodos e produtos desde os índios pode gerar um amido modificado para o mercado chinês e o meio ambiente.
*Ronaldo Araújo é engenheiro químico e atua profissionalmente desde 1979. Trabalhou em cargos gerenciais na área de produção, projetos e processos em grandes empresas do ramo farmacêutico, alimentício e química fina, tais como Bayer, Tate & Lyle, Basf e Cargill. Atuou com políticas de gerenciamento seguindo regras rígidas de qualidade, segurança e meio ambiente, comuns no mundo globalizado e competitivo intra-empresas. Trabalhou nos EUA, como “plant engineer” (“espécie de faz tudo”: manutenção, projetos, processos e produção). Se auto-intitula um “peão de trecho melhorado”. Sua última atuação profissional foi como consultor na Rússia/Ucrânia, num trabalho para hidrolizar a sacarose (açúcar de cana / beterraba) e separá-lo em glucose / frutose através de equipamento industrial de cromatografia líquida.

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