terça-feira, janeiro 17, 2006

Porto Real

“Mais do que o Know-How, o Brasil precisa de Know-Why”
M.R.Robert Moreau

Porto Real foi elevada à condição de cidade há dez anos, até então, pertencia ao município de Resende e era caracterizada por ser uma colônia de imigrantes italianos vindos em meados do século 19 e com profundas raízes no setor agropecuário. A maior indústria até a vinda das montadoras de automóveis era uma engarrafadora da Coca-Cola onde antes funcionava uma refinaria de açúcar, que cada vez se expande mais.
Até o “boom” automobilístico, Porto Real era uma localidade dependente de Resende e Barra Mansa. As pessoas que necessitavam aprimorar seus conhecimentos iam buscá-los em outras localidades. Hoje esta dependência ainda existe, porém, em menor escala.

Embora a fábrica da Volkswagen esteja localizada no município de Resende (outro lado do Rio Paraíba) a proximidade com Porto Real, leva a pensar que esteja localizada “no lado de cá” do rio Paraíba.
Com a chegada da Volkswagen, a reboque, vieram a Peugeot e outras empresas que integram os módulos para montagem de veículos. Uma delas é a Guardian. Com capital espanhol, veio com uma planta mundial, atraída pelos baixos custos de fabricação, mesmo com toda a cadeia de impostos. A Guardian hoje exporta cerca de 30% de sua produção.

Por serem descendentes de italianos, há um espírito de fraternidade que os une e todos se autoclassificam como parentes e ainda há coisas que só vi em cidade pequena do estado de São Paulo, como deixar as frutas caídas no dia anterior no muro para quem desejar apanhá-las, crianças brincando à noite nas ruas, pessoas conversando na calçada, céu estrelado, fazer caminhada no mato e ver pássaros silvestres, não ter barulho de buzina, ufa, e tudo isso no meio do caminho entre o Rio de Janeiro e São Paulo!
É claro que houve necessidade de atrair mão-de-obra capacitada e a cidade foi aos poucos se adaptando à expansão, com instalação de hotel, restaurantes, bancos (havia até um banco próprio, Banco Porto Real) e Resende e Penedo receberam as benesses do crescimento no setor imobiliário.

Sou por natureza um observador da alma humana, três casos me deixaram boquiabertos com a capacidade do povo brasileiro de como podem aproveitar o momento, só precisando de um empurrão (capacitação). O primeiro foi dentro da própria família, o meu cunhado (que tenho como irmão) que parecia acomodado com sua condição de motorista e com um caminhão agregado à prefeitura local, conseguiu uma oportunidade na Volks e hoje é um dos mais conceituados pilotos de testes. Vendeu seu caminhão e se dedica exclusivamente à sua atividade. Quer voltar a estudar e aprender alemão e inglês para seguir a área internacional.

O segundo caso aconteceu numa manhã quando fazia minha caminhada diária e encontro com um amigo de infância da família de minha esposa, este sem camisa e de shorts, após os cumprimentos, elogia o tempo, a natureza e a felicidade de estar num paraíso como Porto Real, pois agora estava muito feliz, pois, havia emprego para as pessoas. Pergunto se não haveria interesse de trabalhar para uma destas empresas, ele me diz que já o fez e que agora prefere a liberdade e está montando uma pequena empresa para prestar serviços para estas empresas. Este rapaz tem o primeiro grau e está se capacitando para melhorar os serviços que presta na área de construção civil. Segue a tendência mundial do setor de serviços e vai bem obrigado.

O terceiro caso foi numa oficina de mecânica de automóveis onde fiz limpeza nos bicos e a troca de velas do meu carro. O proprietário me deu uma aula de combustão e o que mais me impressionou foi o fato dele querer fazer uma avaliação de todo o sistema de injeção e assim testar o software do curso, em seu computador pessoal.

A capacitação é o fator-chave. Criatividade temos de sobra, além da vontade de trabalhar. Não necessitamos de esmolas, necessitamos de oportunidades.
Ronaldo Araújo
Engenheiro Químico

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