Fábio Siqueira é professor e historiador
e-mail: fabiogsiqueira@ig.com.br
Mais uma vez, desfruto da generosidade de meu amigo Roberto Moraes, para ocupar este seu prestigiado blog com algumas reflexões. Esta consideração preliminar se deve, a recente constatação em conversa com amigos que conhecem a mídia local, onde fiquei assustado com projeções sobre o pequeno número de leitores de jornais diários em Campos. Acho que, considerar a pequena proporção dos que se atêm a artigos e páginas de opinião, ajuda a entender um pouco o quadro sócio-político local. Por isso, é bom ter acesso à interlocução com um público qualificado e crítico, na expectativa de atrair a atenção de pelo menos parte dele. Estou tomando gosto pela coisa, é uma “cachaça” como diz nosso blogueiro.
Na “ordem do dia” a maior polêmica do momento: o aumento salarial dos membros do Congresso Nacional. Longe de mim, assalariado sem reajuste desde que tomei posse no serviço público – isso mesmo, o mesmo piso salarial há oito anos! – tomar a defesa de nosso nobre colégio de líderes partidários, responsável pela decisão. Mas, quem atira as pedras?
Escrevo no dia em que o Exmo. – ou seria Mmo. – colegiado do STF decidiu sustar o polêmico aumento. A propósito, qual é mesmo o salário dos Ministros (as) do STF? Respondo: exatamente o mesmo, aliás, parâmetro para o valor aprovado pelos achincalhados parlamentares. Onde estava a severa opinião pública e sua vetusta tutora, a grande imprensa, quando os doutos magistrados da Corte Suprema concederam a si mesmos os nababescos salários? Alguém já experimentou a edificante experiência de assistir à relevante programação da TV Justiça? Vale conferir, sobretudo a performance do Exmo. Ministro Marco Aurélio Mello! Quem delegou a esta corte o poder de garantir para si o mesmo salário que julgam ilegal para outro poder? O povo?
E por falar em interesse popular, será que o Poder Judiciário atende melhor aos interesses da sociedade que o Poder Legislativo? Em que será que o Roberto Jefferson ou o Severino são piores que o Nicolau “Lalau” e o Rocha Mattos? Qual o destaque que a grande imprensa, grande guardiã do interesse da opinião pública, tem dado ao relevante debate sobre o controle externo do judiciário? E qual será o salário da Miriam Leitão – que, como noticiou este blog goza da grande admiração de Roberto Jefferson? Qual o aumento que a Globo concedeu a ela em sua data base? Será que o Alexandre Garcia era tão implacável com o Congresso na ditadura? Naquela época os deputados ganhavam menos ou ele era mais complacente?
Todas essas questões me fazem lembrar da canção Geni e o Zepelim, do mestre Chico Buarque. É inegável que, com grande inabilidade, a maioria dos Deputados federais e Senadores se submeteu a um desgaste imenso, agindo de maneira indefensável. Assemelham-se assim à heroína da canção, que não reivindica virtude porque obviamente não a possui. Destacam-se, porém, na obra de Chico os hipócritas personagens da “boa sociedade” que, igualados a Geni e, até mesmo salvos por ela, não hesitam em atirar-lhe pedras no dia seguinte.
Gostei muito de uma imagem que o Franklin Martins relacionou à “opinião pública” em recente artigo sobre esse mesmo tema. Esta seria uma senhora viúva, de boa índole, mas preconceituosa, moralista e um tanto ignorante, sujeita, portanto, a juízos de valor simplistas e equivocados. Seria oportuno que esta típica senhora de classe média se lembrasse que toda sociedade é responsável pela ELEIÇÃO do Congresso Nacional. Seus membros, independentemente de erros e acertos, representam os cidadãos. Suas atitudes, mesmo as piores, refletem a sociedade em suas qualidades e defeitos, como se fossem o espelho da viúva em questão. Infelizmente, não podemos escolher, nem cassar ou punir os que ocupam redações e microfones dos jornalões e emissoras de TV, que formam “nossa” opinião, nem os bem pagos membros da Corte Suprema.
PS.: Apesar de tudo, otimista incorrigível, tenho boas expectativas para o ano novo que se avizinha. Despeço-me temporariamente dos poucos que resistiram a todas as linhas desse artigo – sei que preciso ser mais conciso, chego lá! – desejando boas festas e um feliz 2007.
e-mail: fabiogsiqueira@ig.com.br
Mais uma vez, desfruto da generosidade de meu amigo Roberto Moraes, para ocupar este seu prestigiado blog com algumas reflexões. Esta consideração preliminar se deve, a recente constatação em conversa com amigos que conhecem a mídia local, onde fiquei assustado com projeções sobre o pequeno número de leitores de jornais diários em Campos. Acho que, considerar a pequena proporção dos que se atêm a artigos e páginas de opinião, ajuda a entender um pouco o quadro sócio-político local. Por isso, é bom ter acesso à interlocução com um público qualificado e crítico, na expectativa de atrair a atenção de pelo menos parte dele. Estou tomando gosto pela coisa, é uma “cachaça” como diz nosso blogueiro.
Na “ordem do dia” a maior polêmica do momento: o aumento salarial dos membros do Congresso Nacional. Longe de mim, assalariado sem reajuste desde que tomei posse no serviço público – isso mesmo, o mesmo piso salarial há oito anos! – tomar a defesa de nosso nobre colégio de líderes partidários, responsável pela decisão. Mas, quem atira as pedras?
Escrevo no dia em que o Exmo. – ou seria Mmo. – colegiado do STF decidiu sustar o polêmico aumento. A propósito, qual é mesmo o salário dos Ministros (as) do STF? Respondo: exatamente o mesmo, aliás, parâmetro para o valor aprovado pelos achincalhados parlamentares. Onde estava a severa opinião pública e sua vetusta tutora, a grande imprensa, quando os doutos magistrados da Corte Suprema concederam a si mesmos os nababescos salários? Alguém já experimentou a edificante experiência de assistir à relevante programação da TV Justiça? Vale conferir, sobretudo a performance do Exmo. Ministro Marco Aurélio Mello! Quem delegou a esta corte o poder de garantir para si o mesmo salário que julgam ilegal para outro poder? O povo?
E por falar em interesse popular, será que o Poder Judiciário atende melhor aos interesses da sociedade que o Poder Legislativo? Em que será que o Roberto Jefferson ou o Severino são piores que o Nicolau “Lalau” e o Rocha Mattos? Qual o destaque que a grande imprensa, grande guardiã do interesse da opinião pública, tem dado ao relevante debate sobre o controle externo do judiciário? E qual será o salário da Miriam Leitão – que, como noticiou este blog goza da grande admiração de Roberto Jefferson? Qual o aumento que a Globo concedeu a ela em sua data base? Será que o Alexandre Garcia era tão implacável com o Congresso na ditadura? Naquela época os deputados ganhavam menos ou ele era mais complacente?
Todas essas questões me fazem lembrar da canção Geni e o Zepelim, do mestre Chico Buarque. É inegável que, com grande inabilidade, a maioria dos Deputados federais e Senadores se submeteu a um desgaste imenso, agindo de maneira indefensável. Assemelham-se assim à heroína da canção, que não reivindica virtude porque obviamente não a possui. Destacam-se, porém, na obra de Chico os hipócritas personagens da “boa sociedade” que, igualados a Geni e, até mesmo salvos por ela, não hesitam em atirar-lhe pedras no dia seguinte.
Gostei muito de uma imagem que o Franklin Martins relacionou à “opinião pública” em recente artigo sobre esse mesmo tema. Esta seria uma senhora viúva, de boa índole, mas preconceituosa, moralista e um tanto ignorante, sujeita, portanto, a juízos de valor simplistas e equivocados. Seria oportuno que esta típica senhora de classe média se lembrasse que toda sociedade é responsável pela ELEIÇÃO do Congresso Nacional. Seus membros, independentemente de erros e acertos, representam os cidadãos. Suas atitudes, mesmo as piores, refletem a sociedade em suas qualidades e defeitos, como se fossem o espelho da viúva em questão. Infelizmente, não podemos escolher, nem cassar ou punir os que ocupam redações e microfones dos jornalões e emissoras de TV, que formam “nossa” opinião, nem os bem pagos membros da Corte Suprema.
PS.: Apesar de tudo, otimista incorrigível, tenho boas expectativas para o ano novo que se avizinha. Despeço-me temporariamente dos poucos que resistiram a todas as linhas desse artigo – sei que preciso ser mais conciso, chego lá! – desejando boas festas e um feliz 2007.
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