domingo, fevereiro 18, 2007

A inconveniência da “verdade” dos intolerantes!!

Luiz Felipe Muniz de Souza
Advogado, psicopedagogo, terapeuta e industriário

e-mail: lfmunizz@gmail.com
Campos, 16/02/2007.

Por mais que as chuvas abundantes e as enchentes incomuns em nossa região exijam ações urgentes para desafogar as famílias, os rebanhos e os canaviais inundados, não podemos mais correr o risco de cometer os mesmos erros simplistas do passado. Temos que agir e pensar juntos para além das diferenças de idéias, numa tentativa urgente, e, talvez única, de re-arrumar a bagunça que financiamos ao longo do tempo e que ainda nos domina a todos, particularmente no Poder Executivo Municipal em Campos dos Goytacazes.

Outrora a Baixada Campista foi drenada sim! Em nome do desenvolvimento agro-industrial, construímos mais de 2000 Km de canais sem considerar quaisquer aspectos de cunho ambiental sim! Alguns dizem, na defesa do que foi realizado, que o trabalho se deu em função das doenças e epidemias oriundas dos fartos mananciais. Na minha humilde opinião, uma desculpa que custou apenas, a perda de quase uma centena de lagoas e outras centenas de brejos e áreas úmidas importantes e vitais para toda a comunidade.

Desconsiderar os importantes relatórios internacionais sobre o “Aquecimento Global”, e, as inevitáveis “Mudanças Climáticas” para a tomada de decisões é o mesmo que negar hoje a existência da Lua ou afirmar que a destruição de Nova Orleans / EUA pelo “Katrina” ou a “Tsunami” na Ásia foram uma ficção!!

Toda a Rede Globo nunca esteve tão “ecochata”! Colunas de Economia e Política não falam em outra coisa senão em mudança de matriz energética para tentar fazer frente ao drama do aquecimento e suas conseqüências espetaculares. Quem diria, a Miriam Leitão!? O “Fantástico” dominical traz agora fora do tempo - mas em horário nobre - especiais internacionais, para tentar explicar, o que de fato há na Biosfera em crise, numa tentativa meio que desesperada de chamar a atenção para o grave momento da humanidade. Até a Ana Maria Braga deixou um pouco de lado, as delícias de nossa culinária, para entrevistar um dos jornalistas responsáveis pelo atual envolvimento da “Rede Globo” com o tema.

Enquanto isso, aqui no 6º PIB Brasileiro, os ruralistas e usineiros reacendem velhos dramas ambientais, embalados pelas águas em suas lavouras de cana e pelas pontes caídas e ausentes. Esqueceram boa parte dos excessos cometidos: invasões de lagoas, eliminação de pequenas propriedades rurais, expulsão de comunidades pesqueiras, derrubadas de florestas, etc. Agora que o álcool foi elevado a categoria de “commodity” internacional, devido à busca das nações por alternativas aos combustíveis fósseis, sentem-se cada vez mais poderosos para o enfrentamento político regional. Já conseguiram até uma grande vitória: a pressão sobre o Prefeito de Campos motivou a troca do secretário de Meio Ambiente, sai o Sidney Salgado de perfil técnico e entra um político profissional – Paulo Albernaz - de bom trânsito com os ruralistas, mas de perfil frágil com relação à área socioambiental.

Tudo bem, para ser Secretário de Governo não é preciso ser especialista! Mas a questão não é essa, ela é um pouco mais complexa e requer melhor reflexão.

O grande problema é que na Prefeitura de Campos impera um caos dramático de organização, planejamento e fiscalização. Não há qualquer padrão a ser seguido na qualidade de funcionário público municipal - seja por concurso ou indicação -, ficando assim o cargo a cargo de quem de fato assume a pasta ou a função. Nada por aqui acontece como fruto de um trabalho de convergência, planejado ou de metas a serem alcançadas, não!! Nestas terras de fartura, o jogo tem ficado por conta da decretação de Estado de Emergência ou similar, impedindo licitações públicas e o cumprimento dos já precários Planos Plurianuais; porém, com farta liberação de verbas dos cofres públicos.

Ora, um município com tantos recursos financeiros, e, tão precárias condições estruturais, não ter capacidade técnica para gerar projetos, para serem financiados e implementados com e pelo Ministério das Cidades na área de infra-estrutura, é uma aberração! Um prefeito que vai ao Jornal da Record e afirma que o município perdeu mais de 350 milhões do Governo Federal por falta de projetos, não deveria ser pressionado pelas lideranças e cobrado pela comunidade?

Não será na divergência que alcançaremos melhores índices de gestão é verdade, mas sim numa visão mais complexa e compartilhada dos fatos e das decisões. Uma parte dos ruralistas e usineiros, por exemplo, estão apostando na criação de novos Consórcios e Comitês para facilitar os caminhos de acesso ao dinheiro federal para a prática de novas intervenções na Bacia Hidrográfica Regional. Há no ar, um certo boicote ao Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, e, ao Consórcio de Municípios e de Usuários da Bacia do Rio Paraíba do Sul para a Gestão Ambiental da Unidade Foz, instalado em 12/12/2003 junto ao CEIVAP - Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul - Sistema Nacional de Recursos Hídricos, instituído pelas Leis nº. 9.433/97 e 9.984/00 -, dito por eles como “casa dos ecologistas e ambientalistas”.

Não cabe mais a intolerância e suas meias verdades. As questões socioambientais daqui a diante deverão ser assumidas coletiva e democraticamente por todos os segmentos comunitários. Assim desejaram os recentes legisladores brasileiros e assim exigem as urgências globais entorno do tema. O dualismo regional, entre os ruralistas e usineiros de um lado e os ecologistas e simpatizantes de outro, não é mais cabível no cenário atual de crises entorpecentes e hiper-complexas. Precisamos de um choque de Gestão Pública que permita e garanta a evolução dos colegiados já criados, eles têm papel fundamental nas mudanças que urgem. Precisamos ainda, de uma imprensa sensível a toda esta dinâmica de ações locais, com capilaridade profissional, ao mesmo tempo para garantir os espaços da boa informação, como para agir articulando em prol do aprimoramento orgânico local e regional. Muito provavelmente, nem mesmo isto, bastará!!

Um comentário:

Família Siqueira de Campos disse...

O maior problema do Brasil, ou dos brasileiros é a falta de informação, ou melhor, falta de um conhecimento mais amplo sobre assuntos que envolvem e atingem vários setores da sociedade, como por exemplo, a questão das enchentes que, em Campos, atingiram desde a população até a indústria passando pelo comércio e agropecuária. Não podemos visualizar um fato e ditar soluções de um só ponto de vista como se fôssemos donos da verdade. Devemos sim ter bom senso para não sermos radicais ou "ecochatos" e fazermos tudo o que manda a mídia internacional a respeito de questões ambientais. É certo que erramos no passado, mas não é por isso que vamos errar novamente agora tomando atitudes radicais e sem respaldo técnico não levando em consideração os vários pontos de vista ou vertentes do mesmo problema. No passado, Campos era afligida com as enchentes todos os anos e quem mais sofria com as doenças originadas das águas estagnadas (que estão voltando atualmente) era a camada mais pobre da sociedade. Por causa, principalmente, desse fato é que foram feitos os canais de drenagem e não apenas "para satisfazer os interesses da agricultura" como supõem algumas pessoas. Eu sugeriria que se estudasse mais a fundo o problema dos canais de Campos, levando em consideração as questões ambientais com certeza, para não cometermos os mesmos erros, mas atentando para soluções duradouras e não imediatas baseadas em emoções de ambientalistas. Hoje, só porque está na moda, qualquer um se intitula de ambientalista. As soluções deveriam contemplar, de uma vez por todas, a sustentabilidade do setor produtivo, do qual e sem o qual não pode haver a vida humana neste planeta. Vamos então colocar os pés no chão de falar de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL com responsabilidade baseado em soluções técnicas para a resolução dos problemas de nossa região. As enchentes e os estragos vistos nesse ano foram justamente por causa do descaso e o abandono dos canais e dos diques que serviriam não só para conter as águas mas também para escoá-las de forma a não causar destruição. Na questão das lagoas invadidas é o caso de já ter sido feito uma real definição do que é lagoa e o que é terra fértil para produção agrícola, pois estamos perdendo terreno para São Paulo a muitos anos, justamente, por ações danosas dos ecochatos. Já fomos o maior produtor de açúcar do Brasil e já algum tempo vemos a destruição do nosso parque industrial e agrícola, contrariando a tendência nacional.

João Gomes de Siqueira
Médico Veterinário