segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Vencerá o pior...

Luiz Felipe Muniz de Souza
Ambientalista, bacharel em direito e petroleiro.
lfmunizz@gmail.com
Campos, 14/02/2006.

Não é pessimismo, é puro realismo! Enquanto grande parte da imprensa internacional e nacional não consegue barrar os destaques jornalísticos e científicos a respeito dos estonteantes temas que tentam dar conta diuturnamente da grave crise sócio-ecossistêmica planetária – o que vem exigindo das lideranças mundiais e regionais posturas mais ousadas e vanguardistas para as urgentes mudanças do modelo de desenvolvimento –, por aqui a colonização bárbara dos senhores de engenho e os inflamados egos desvirtuantes, ainda entonam os cânticos dos postulantes ao poder, sem idéias nem perspectivas, apenas com o regozijo viciante das turbas populistas, conseguindo apenas fazer surgir lideranças com os seus aguçados olhares provincianos rumo aos cofres públicos hoje repletos de Petrodólares.

Lá fora, o ano de 2005 acaba de ser anunciado por cientistas da Nasa como o ano mais quente da história e o início de 2006 está marcado definitivamente por um inverno na Europa, na América do Norte e em parte da Ásia com as temperaturas mais baixas dos últimos tempos (até -47ºC), incluindo nevascas intensas jamais vistas, um caos de proporções gigantescas para os grandes centros urbanos e para a maioria das comunidades que vivem às margens das conquistas tecnológicas e sociais, sinais de que o clima atônito ronda a nossa casa.

Em recente entrevista a revista “Veja” o demógrafo Paul Ehrlich – da Universidade de Stanfort da Califórnia – afirma que “a falta de comida causará a morte de milhões de pessoas nas próximas décadas” e traça um prognóstico perverso quando se refere a entrada da China e da Índia na perspectiva capitalista ocidental de economia de mercado, ponderando que “a chegada de bilhões de chineses e indianos a esse mesmo nível de consumo levará a conseqüências devastadoras para o meio ambiente e para a qualidade de vida na Terra.”, ressaltando que o planeta somente teria condições de sustentar hoje a presença de 2 bilhões de habitantes com o atual padrão ocidental, enquanto já somos cerca de 6,5 bilhões de seres humanos.

Na semana passada Tony Blair, primeiro ministro inglês, escreveu na introdução de um relatório oficial sobre o aquecimento global que “é evidente que a emissão de gases, associada ao crescimento industrial e econômico da população mundial, que aumentou seis vezes nos últimos 200 anos, está aquecendo a Terra numa velocidade insustentável”.

Ao mesmo tempo a ONU anuncia em Nova York que “a desertificação ameaça 2 bilhões de pessoas no mundo”, declarando 2006 como o “Ano Internacional da Desertificação” na expectativa de unir esforços para o debate e ações proeminentes em prol da proteção da biodiversidade planetária e combate as práticas humanas que sistematicamente tem transformado áreas férteis em desertos potenciais em todos os ecossistemas, particularmente nos trópicos. Segundo o geofísico da USP, Paulo Artaxo Netto, com a velocidade da mudança climática associada a contínua ação humana predatória, é razoável imaginar que “daqui a trinta ou quarenta anos, a região central do Brasil poderá estar tão seca que talvez não seja mais possível cultivar soja em seu solo”.

Já o autor Jared Diamond, ganhador do “Prêmio Pulitzer” de literatura, biogeógrafo norte-americano e professor da Universidade da Califórnia, acaba de lançar o livro: “COLAPSO - Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, sendo destacado por Merval Pereira, colunista do jornal “O Globo”, em recente publicação (02/02/2006), como o livro que hoje tem orientado alguns palestrantes e profissionais da área de economia e planejamento. Diamond sustenta que “os Estados Unidos são hoje como a Roma antiga às vésperas do colapso: até capaz de perceber os sinais de alerta, mas incapaz de fazer os sacrifícios (como redução do padrão de vida) para reverter esse quadro”; traz em sua obra inumeráveis exemplos de sucesso e fracasso civilizacional e alerta que o seu trabalho é hoje em função de “nossa incapacidade de pensar no longo prazo e, principalmente, de nossa curtíssima memória”.

Dentre as tantas manifestações recentes a que mais chama atenção é a do professor James Lovelock, um dos mais respeitados cientistas ambientais da atualidade, num artigo especial de lançamento de seu último livro: “A Vingança de Gaia”, para o jornal inglês “Independent”, quando choca a todos os segmentos com um texto direto e contundente sobre o atual quadro de saúde da Terra. Ele afirma que “precisamos ter em mente a velocidade espantosa da mudança e nos dar conta do quão pouco tempo resta para agir” e que não há como mais barrar o processo da “mudança ambiental”, segundo Lovelock “cada comunidade e nação precisará usar da melhor forma os recursos que tem para sustentar a civilização o máximo que puderem.” Ainda, segundo ele: “o pior vai acontecer, e os sobreviventes terão que se adaptar a um clima infernal”.

...Mas...O que ou quem será o pior?

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