terça-feira, março 07, 2006

Reflexões de um passeio à praia

Robson Santos Dias

Durante as férias universitárias, vinha aproveitando os momentos de folga para ir à praia dos Cavaleiros em Macaé. Geralmente eu ia até a praia de bicicleta passando pela Linha Verde, via expressa que passa por fora da cidade. Em um desses meus agradáveis passeios uma coisa me chamou a atenção. Um loteamento recentemente lançado no mercado imobiliário (não tem mais do que dois anos) já estava com toda infra-estrutura montada. Ruas asfaltadas, iluminação pública instalada, lotes demarcados, esgoto e distribuição de água instalados. Até aí tudo bem, a incorporadora construiu toda infra-estrutura, algo muito normal. Mas o que me impressionou foi o fato de que já existe um número considerável de casas de classe média alta quase prontas para morar. Não me lembrava de vê-las algumas semanas antes.

Lembrei-me de um outro momento, em meados do ano de 2005, visitei uma localidade pobre – o bairro Malvinas – que em tempos anteriores eu costumava ir semanalmente e também levei um susto ao constatar a existência de novas localidades carentes, cuja presença do poder público é praticamente inexistente. O mais impressionante é que essas novas localidades interligaram o bairro Malvinas com o bairro Nova Holanda, os dois principais bairros de baixa renda de Macaé, que, se seguirmos as ruas da cidade legal, possuem uma distância considerável um do outro. A população pobre conseguiu encurtar a distância entre os dois bairros ocupando áreas sem nenhuma infra-estrutura.

A minha surpresa talvez seja uma prova da minha distração, mas tenho certeza que os fatos supracitados surpreenderam muitas pessoas além de mim. Isto acontece porque o atual período de pujança econômica engendrou uma forte dinâmica demográfica que é por natureza dual. Esta dinâmica é impulsionada tanto por aqueles que trabalham no setor moderno da economia local, quanto por aqueles que não conseguem se inserir neste setor e vão para a informalidade. O espaço urbano macaense expõe de forma eloqüente esta dualidade.

Mas, como sabemos, o problema não é único em Macaé ou na sua região de entorno, apesar disso não nos abster de nossa responsabilidade com os mais desfavorecidos. O problema se reproduz, em maior ou menor grau, em cada cidade do país. O caso de Macaé é paradigmático por se tratar de uma cidade cada vez mais modernizada e globalizada, mas cujas contradições refletem o caráter conservador da modernização no Brasil.

A retórica do desenvolvimento exógeno presente nos defensores da refinaria não considera e nem nunca considerará esta questão. O que fazer com aqueles que não são aptos para a moderna economia? É preciso pensar em estratégias que possam dar a esta população o “direito à cidade”, mesmo se não incluídos na moderna economia globalizada.

Creio que não precisamos de idéias esdrúxulas, mas de revalorizar atividades tradicionais ignoradas pela economia formal. Criar oportunidades de vivência digna a partir de suas próprias atividades, de soluções endógenas, não necessariamente ligadas ao setor moderno da economia, pois este tem se mostrado cada vez mais excludente e o que precisamos em nossa sociedade é justamente aquilo que o setor moderno não faz, incluir.

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