quinta-feira, agosto 02, 2007

A aviação, o lucro, a imprensa e a gestão no Brasil

Luiz Felipe Muniz de Souza
Advogado, psicopedagogo, terapeuta e industriário.

e-mail: lfmunizz@gmail.com

Não há dúvidas de que a indignação tomou conta do Brasil após mais uma tragédia de proporções cinematográficas! O relevo escarpado da ocorrência em meio a uma já anunciada e frenética crise de todo o setor da aviação civil dá sinais inequívocos de que os erros, as falhas, as omissões, a desordem, a ganância, a irresponsabilidade civil e penal – pública e privada - se somam e se aglutinaram no tempo de vários governos e no espaço das instituições envolvidas, e como um câncer está matando, infernizando famílias e afetando a frágil estabilidade político-econômica do país.

Graças a muitos interlocutores da grande mídia, as informações preliminares já apontavam os responsáveis por mais esta desgraça: o Governo Federal. No olho do furacão, o desespero e a dor dão as cartas, surpreendem e comovem todos nós!! É verdade, o Governo Federal é o culpado! Todos, até o Presidente da República parecia entoar este cântico das tormentas, quando não veio de imediato a público prestar esclarecimentos e solidariedade aos familiares! Até por que nós fomos treinados para acolher como verdade tudo aquilo que os tele-jornais publicam; temos preguiça nata por outras fontes! Agora, a CPI do “Apagão Aéreo” deixa vazar dados da “caixa preta” onde há fortes indícios de que teria havido falhas dos equipamentos de frenagem associada à falha humana, com base no diálogo entre os pilotos e a torre de controle do aeroporto..., mas é tarde!

Inúmeros pilotos e tripulantes da TAM e outras companhias pediram demissão ou entraram com licença médica alegando excesso de trabalho, condições precária dos equipamentos e problemas psicológicos, fatos largamente publicados nos jornais de circulação nacional nos dias seguintes ao acidente, mas que tiveram pouquíssimo espaço na grande mídia televisiva. A TAM expediu pedido quase desesperado de ajuda aos seus funcionários de férias e convocou todos que estavam de folga para atender ao caos que se instalou nos dias subseqüentes.

Enquanto isso especialistas de toda a ordem se manifestam por todo o canto do país. Na revista “Época” de 23/07 o doutor em Ciência Política da FGV, Fernando Abrucio, com o título: “Congonhas mostra o colapso do Estado”, diz que “o Brasil passa por um colapso de sua infra-estrutura” e que há “um descompasso entre o avanço da economia e a incapacidade do governo”. O editorial da Folha de São Paulo do domingo 29/07 estampa a crise aérea como “dor de crescimento”, segundo ele o “vigor econômico já pressiona infra-estrutura além dos aeroportos” e que “uma abertura geral do setor de infra-estrutura ao capital privado seria uma saída óbvia para conciliar o interesse desses agentes aos do país.”

A bem da verdade deve ser dito alto e em bom tom que boa parte do Serviço Público praticado hoje no Brasil, em todos os níveis da Federação, está mergulhado no amadorismo. Entendendo amadorismo como o exercício de uma atividade técnica ou administrativa sem quaisquer critérios prévios de padronização ou normatização, capazes de nortear objetivos e fins a serem cumpridos por um agente público num determinado espaço de tempo. Se não há padrões a serem cumpridos nem normas a serem atendidas, não há fiscalização e nem responsáveis, enfim, não há gestão que dê conta dos sabores da pessoalidade na administração da coisa pública. Esta é a política do quanto pior melhor, muitas empresas privadas se beneficiam e abusam desta lógica nacional para abocanhar mais divisas e assim, colocam em risco os usuários de seus produtos ou serviços!

O amadorismo que se pratica no Serviço Público é um vício patrocinado pela classe política que tem um pé na iniciativa privada e que deseja enfurecida o vigor frágil do “Estado Mínimo” e Míope. É inconcebível que a indústria da aviação civil não possua hoje instrumentos próprios e eficazes de auto-regulação e autocontrole de todo o seu processo com vistas à segurança operacional de suas aeronaves e instalações, de seus usuários e demais interessados e ou envolvidos, como hoje transparece para a sociedade brasileira.

Quando defeitos e ou registros de falhas de equipamentos ou instalações vitais não são tratados com o rigor que o processo requer ou deveria, então a última palavra ficou por conta tão somente da demanda, ou do fluxo de caixa, ou dos aspectos políticos, ou da decisão própria daqueles que entendem que administrar ou liderar é “assumir riscos”.

Para entender, respeitar e tratar os sinais de deterioração do Estado Brasileiro e das Instituições Públicas e Privadas é preciso muito mais do que títulos e arautos televisivos, a nação requer urgentemente uma nova gente para a ação e a administração da coisa pública, o tempo urge e o vento sopra contra nós!!

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