domingo, agosto 26, 2007

A vergonha que passei por ser campista

Prof. Vitor Augusto Longo Braz* em 06/08/06

Por ocasião da última Festa de São Salvador, padroeiro de Campos dos Goytacazes, ou seja, a festa popular máxima da nossa cidade, comemorada tradicionalmente no dia seis de agosto (este ano caiu num sábado), e que atrai os milhares de habitantes dos quatros cantos do município, tive a oportunidade de através da imprensa, ficar ciente de sua programação, que incluía, entre tantos eventos, uma parte reservada para o esporte.

Professor de Educação Física e, acima de tudo, desportista, interessei-me pela programação esportiva anunciada, que incluía remo, prova ciclística, corrida rústica e outros esportes. Como organizador de corridas rústicas, tendo organizado quase uma centena desse evento em Campos e cidades vizinhas, fui assistir ao evento de corrida de rua.

Ao chegar ao local, um pouco antes do horário previsto para o início, logo fui cercado por um grupo de corredores de São João da Barra, atletas que tradicionalmente participam deste tipo de evento em nossa cidade. No entanto, pela má divulgação da corrida, só souberam na véspera da realização da mesma. Após grande esforço em conseguir condução e apoio financeiro para participar da “Corrida de São Salvador”, esses abnegados atletas se deslocaram bem cedo da cidade vizinha para participarem da prova. Entretanto, de forma arbitrária e deselegante, foram sumariamente impedidos de participarem da corrida pelo organizador da prova, até mesmo de forma não oficial (sem concorrer à premiação e colocação), e o que é mais lamentável: não foram aceitos nem mesmo os suprimentos alimentares que serviam de inscrição para a prova e que os mesmos tinham levado.

Pela intimidade que tenho com os atletas da cidade vizinha, e a pedido deles, tentei intermedir um acordo para que os mesmos pudessem participar da corrida. Foi em vão. Nem o organizador, nem o Presidente da Fundação Municipal de Esportes, entidade promotora do evento, nem o sub gerente de esportes do município, aceitaram as inscrições dos atletas que viajaram com sacrifícios, principalmente financeiros, para abrilhantar um evento realizado pela nossa prefeitura. Ato que nenhuma razão justifica, muito menos quando o número de participantes era muito pequeno, aproximadamente 30 corredores, e que, frise-se por importância, tinha uma premiação em dinheiro para os vencedores das várias categorias, de grande atratividade.

Por amor ao esporte e carinho pelos participantes (quase todos conhecidos meus), ofereci-me ao organizador para ajudar no que fosse preciso. Como estava de moto, o organizador pediu-me que servisse de batedor (controlador do trânsito e elemento de segurança). Atendi, porém estranhei a solicitação, uma vez que, normalmente essa é uma função desempenhada pela Guarda Civil e pela Polícia Militar, que possuem experiência em controle de tráfego e, ainda mais, por se tratar de um evento oficial do município.

Nesse aspecto, posso afirmar que se não fosse um grupo de motociclistas adeptos ao esporte, aonde me incluo, muitos corredores participantes ficariam em apuros. Só no meio da prova é que dois guardas civis em motocicletas apareceram para apoiar aos participantes. No entanto, eles, os guardas batedores atrasados, não conheciam o percurso da prova, como a maioria dos corredores e eu também não. Na verdade, fomos adivinhando o trajeto.

Em momento algum, em uma prova de rua em que riscos de acidentes são eminentes, se viu o apoio de uma ambulância de pronto atendimento, fato que é obrigatório por lei.

Não havia sistema de som para anunciar absolutamente nada: as autoridades presentes, os participantes de outras cidades, os vencedores, etc. Enfim, nada se anunciava por não ter um simples sistema de som, equipamento obrigatório em qualquer evento de qualquer natureza.

Faixa de chegada não havia, o de largada foi um “já” dado pelo organizador que participava da prova como corredor.

Após a chegada dos muitos atletas de outras cidades, podendo citar: Friburgo (o vencedor), Macaé, Rio das Ostras, Pirapetinga, etc., as manifestações de insatisfação e repúdio ecoaram de forma unânime.

Mas o sofrimento desses heróis não parou por aí. A apuração dos vencedores da prova e respectivas categorias foram um martírio. Os participantes foram obrigados a ficar horas e horas num sol escaldante para se ter os resultados, que não podemos deixar de registrar, muitos com erros que geraram revoltas entre os participantes.

Bom, no final dessa triste e envergonhante competição, os vencedores foram chamados para receber suas respectivas premiações. Pasmem, não havia um pódio (recurso material básico e imprescindível em qualquer evento esportivo), um fotógrafo, não havia nada. Nenhuma valorização sequer dos atletas, que treinam várias horas por dia, vários dias por semana, várias semanas por mês e que são, ao meu ver, as maiores estrelas de qualquer evento esportivo.

Os atletas de corrida de rua são exemplo de humildade, valorizam muito mais o reconhecimento de seu esforço, do que propriamente o dinheiro da premiação. A maioria corre por amor ao esporte, fazem papel de figurantes, sabem que não vão ganhar. Mas, senão fossem esses anônimos talvez as corridas de rua não teriam brilho que possuem como evento esportivo. Para reforçar todo este relato, registre-se que sobrou dinheiro de premiação, algo em torno de seis premiações em dinheiro. Fato inédito, pelo menos para mim.

Como morador de Campos, orgulhoso e amante da cidade que possui o 16º PIB do Estado, 25ª cidade do Brasil em arrecadação de impostos, com um orçamento estimado em um bilhão de reais por ano, que é considerada a cidade pólo regional, que possui uma importância política e econômica a nível nacional, senti-me envergonhado. Uma vergonha ao ver como o esporte em Campos é atrasado, tratado com enorme descaso e, por conseqüência pouco desenvolvido.

Uma vergonha que aumenta, na medida em que vejo a pequena e pacata cidade de Macuco, situada na região serrana do nosso Estado, realizar um evento desta mesma natureza, agregando milhares de participantes e utilizando toda tecnologia disponível para que a valorização dos participantes e o sucesso do evento elevem o nome do município, atraindo investimentos, principalmente na área do turismo, gerando renda e empregos.

* Jornalista, profissional de Educação Física, ex - Presidente da Associação dos Profissionais de Educação Física de Campos (1996 a 2000).

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